Na esteira da onda “friendly” vista nas campanhas das marcas Skol e Avon, grifes de moda também celebraram a diversidade e estamparam o orgulho gay em coleções recentes. Foram além da publicidade e lançaram novos produtos inspirados na igualdade e nos direitos LGBT.
Nike, Levi’s e Converse e a alemã Adidas deram um tapa no preconceito enrustido do mundinho da moda e pintaram o arco-íris em suas peças mais emblemáticas, dias antes de um atirador homofóbico matar 49 pessoas na boate gay Pulse, em Orlando.
As coleções “pride” (orgulho) das grifes Converse e Adidas receberam borrifos de bandeira gay. Em alguns dos modelos Chuck Taylor da primeira, há opções de cadarços roxo, verde e laranja. A versão com fitas trançadas é um dos mais vendidos da linha e custa cerca de US$ 80 (R$ 256).
Os modelos Superstar e Stan Smith, da Adidas, foram confeccionados em versões preta e branca, com um splash de cores na parte inferior que simula manchas de corrida. Regatas, um modelo de jaqueta esportiva e uma calça de corrida também compõem a linha, cujo preços vão até R$ 320.
A campanha brasileira da Adidas tem personagens da comunidade e da noite LGBT brasileira. A cantora Pabllo Vittar, a transexual Alice Kollvitz, a promoter Lily Scott, o stylist Nilo Caprioli e a produtora de eventos Renata Magueta aparecem usando peças da coleção.
Assim como a concorrente alemã, a Nike lançou roupas e calçados com a temática LGBT. Os modelos da linha “Be True” (seja verdadeiro), porém, foram feitos para atividades físicas, e incluem tênis, leggings e camisetas de corrida. Apesar do clichê das cores do arco-íris, a marca se destacou por imprimir triângulos em duas das três versões de “sneakers” que colocou à venda.
Símbolo de luta e resistência, o triângulo remonta ao extermínio de gays e lésbicas nos campos de concentração nazista durante a Segunda Guerra. Os judeus homossexuais homens recebiam no braço um triângulo rosa, e as mulheres, um preto.
Um símbolo de resistência, só que humano, também foi o mote para a coleção “Global Pride” (orgulho global) da Levi’s. O ativista Harvey Milk (1930-1978), primeiro gay assumido a ocupar um cargo público nos Estados Unidos, nos anos 1970, foi lembrado nas jaquetas, nos shorts jeans e num modelo de camiseta.
Além da cara de Milk, uma garrafa de leite (“milk”, em inglês) estampa a homenagem divertida da grife americana, que produziu as peças em parceria com a Fundação Harvey Milk. As peças custam entre R$ 109,90 (camiseta) e R$ 389,90 (jaqueta).
VERDADE INCOVENIENTE
Surpreendentemente, há poucas iniciativas como essas no mercado de moda. No Brasil, o último estilista a tocar na palavra “gay” em suas criações foi Sergio Kamalakian, que pôs na vitrine uma das linhas mais vergonhosas dos últimos anos.
A indústria internacional não perde quando se trata de tapar o sol com a peneira. Fora o estilista Marc Jacobs e a marca Diesel, que lançaram campanhas com modelos de vários gêneros e orientações sexuais, só a grife italiana Dolce & Gabbana apostou na diversidade neste ano.
Em janeiro, desenhos de famílias homossexuais foram bordados em camisetas e em um modelo de bolsa criado pelos estilistas Domenico Dolce e Stefano Gabbana.
A “fofura” tem explicação. A grife sofreu, em 2015, uma campanha de boicote encabeçada por homossexuais e cantores como Madonna e Elton John, que ficaram irritados quando Dolce disse, numa entrevista à revista “Panorama”, não concordar com a adoção de crianças por casais homoafetivos.
(PEDRO DINIZ)