O documentário “Entre os Homens de Bem” começa com cenas do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) numa sessão de descarrego da umbanda, às vésperas de sua reeleição, em 2014. Ele é banhado, sacudido, espanado com ervas, purificado.
A câmera dos diretores Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros filma tudo, quase como se botasse Wyllys no segundo reality show de sua vida –em 2005, ele saiu vencedor do “Big Brother Brasil” apontando o dedo para as piadinhas homofóbicas dos outros participantes do programa.
No documentário, a arena é outra: os corredores do Congresso Nacional e os palanques cariocas. Vez ou outra, o filme entra dentro da casa do deputado e o flagra despojado, torcendo pela cena do primeiro beijo entre homens da TV aberta, na novela “Amor à Vida” (2013). Também mostra as ameaças que o primeiro parlamentar abertamente gay do Legislativo brasileiro é vítima.
“À primeira vista, achei que ele fosse mais uma subcelebridade na política”, disse Barros, logo após o filme ter feito sua estreia, no Festival de Brasília. “Depois, começou a me chamar a atenção o fato de ele ser um político que ganhou fama na Globo e de ter sido eleito pelo partido mais à esquerda do espectro do Congresso Nacional.”
Os diretores paulistas acompanharam o parlamentar por mais de três anos. Jornalista de formação, Barros diz que idealizou o filme após publicar uma reportagem que perfilava o deputado para “Rolling Stone”, em 2011 –os retratos do deputado posando com boina de Che Guevara na capa da revista geraram controvérsia, já que o guerrilheiro argentino não era lá dos mais afeitos aos LGBT.
O documentário mostra Wyllys como um deputado pop, ovacionado na rua, parado a todo momento para tirar selfies e um sujeito que sabe bem o poder das redes sociais e a popularidade que tem ali. É das redes, aliás, que brota a maioria das ameaças de morte, mostradas na íntegra na tela: “Deveria morrer igual aos outros viados” é uma das muitas intimidações que pululam.
“Ele sabia que enfrentaria uma reação, mas não acho que ele passou incólume por elas”, crê Barros. “Acho até que ele era uma pessoa mais leve antes delas e que ficou mais aguerrido depois delas.”
“Entre os Homens de Bem” será exibido no Festival do Rio, a partir de 6/10, e ainda não se sabe se entrará em circuito comercial. “Ainda não há distribuição, mas também não temos o fetiche de colocar o filme no cinema só por colocar”, diz Barros. (GUILHERME GENESTRETI)